Fatores econômicos e ambientais extinguem olarias da região
Publicado em 11/04/2008 10h12
Última atualização em 11/04/2008 10h12

CAROLINA BORELLI
FERNANDA ASSEF
Poucos sabem que a produção de tijolos foi a primeira grande atividade industrial do Grande ABC. Para se ter uma idéia, há apenas 60 anos, a região contava com 100 olarias funcionando, segundo registro da 1ª DP de Santo André. Agora, o número não passa de quatro.
Essa quase extinção das olarias deve-se não só a fatores econômicos, como ambientais. Elas não conseguiram competir com as grandes fábricas de blocos. Além de problemas com impostos, os proprietários sofreram grande pressão do poder público pois a produção de tijolos necessita de um grande número de lenha.
Além disso, o ofício do oleiro é muito específico e passado de geração para geração, o que ajudou a extinguir a profissão. O oleiro é responsável por todo o processo de produção do tijolo. Desde recolher e preparar a argila, moldá-la, escrever as inicias do dono, deixa-la para secar e colocá-la no forno. É um trabalho muito delicado com as mãos e, ao mesmo tempo, árduo.
O lucro com a venda de tijolos nas olarias é baixa, e as quatro olarias ainda existentes foram compradas e hoje são administradas por antigos trabalhadores. Atualmente nas olarias os tijolos custam de R$40 à R$80, o milheiro. Em depósitos a mesma quantidade é revendida à R$110, R$150.
Na tentativa de resgatar a história e retratar de uma maneira muito singela e artística essa indústria que é a identidade do Grande ABC, dois jornalistas se juntaram num trabalho de muita pesquisa. Em 2005, guiados pelo oleiro Zé Macalé, o fotógrafo Orlando Filho e o historiador Ademir Médici percorreram três ruínas de olarias desativadas há muitos anos, além das quatro últimas ainda em funcionamento.
“A idéia surgiu de uma conversa. Sugeri a pauta (o assunto), lembrando que os meus familiares vieram da Itália no final do século XIX e se dedicaram ao ramo numa cidade chamada Ribeirão Pires, também muito rica em olarias”, conta Orlando Filho. Os jornalistas contam que a grande dificuldade do trabalho foi localizar as olarias. “Se não fosse pela ajuda do Macalé, não teríamos encontrado as ruínas”.
Orlando explica que primeiro foi feita a escolha das fotos e projeto gráfico, para depois produzir o texto. Normalmente o que acontece é o inverso. “Aproveitou-se um quarto ou um quinto das fotos. Foi uma dificuldade muito grande separá-las pois o material é realmente belíssimo e único. O resultado foi tão bom que, três anos depois, ainda repercute a ação jornalística”, comenta.
As últimas quatro olarias só sobreviveram por estarem em locais mais afastados e ainda assim não se encontram em boas condições. “Estão muito precárias e tende a desaparecer. Só resistem pelo isolamento da área. Como profissional entendi de registrar os últimos momentos dessa atividade”, comenta o fotógrafo.
A maior delas tem 20 funcionários, sete máquinas e seis animais. A olaria fica em Ouro Fino e pertence a José Benedito dos Santos. Zecão tem 83 anos e recentemente conseguiu o que sonhava há mais de 60 anos: cobrir o pátio para proteger os tijolos e os empregados.
“Penso que as quatro últimas olarias em funcionamento deveriam ser olhadas com uma visão cultural e cada uma delas ser transformada em ecomuseu, com vistas às futuras gerações”, conclui Ademir Médici.
As fotografias de Orlando e os textos de Ademir farão parte da exposição "Rota das Olarias", que faz parte do projeto da prefeitura de Santo André “Onde está a fotografia?”. A exposição ficará no Sesc São Caetano até o dia 10/5.