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População vê grafite como arte urbana

por italo.campos — última modificação 11/06/2014 10h36
Desenhos dividem opinião de moradores entre vandalismo ou objeto cultural

Publicado em 06/06/2014 09h05

Última atualização em 11/06/2014 10h36

População vê grafite como arte urbana
Pichação feita pelo grupo Kães de Igreja - FOTO: Joyce Silva/RRJ

 

JOYCE SILVA
Especial para o Rudge Ramos Jornal*

O grafite ainda é algo que causa controvérsia. Por alguns é considerado uma forma de arte urbana. Outros acreditam que, como a pichação, o grafite também é apenas vandalismo ou poluição urbana.

O grafite, surgiu nas décadas de 70 e 80 e foi trazido ao Brasil pouco tempo depois. Tem como influência o estilo musical Hip Hop, e ainda é visto como uma forma de expressar a revolta de uma classe menos favorecida.
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Boa parte dos grafiteiros são ex-pichadores que procuraram se especializar e fazer trabalhos mais complexos. A pichação é uma forma mais livre e fácil de começar, pois não requer muitas habilidades, apenas uma lata de spray e a criatividade do pichador.

Um exemplo de ex-pichador é Rodrigo Prado, o Smul, 34, que é grafiteiro há mais de 20 anos. Ele explica o porquê procurou o grafite: “Eu sabia desenhar e tinha o dom de mexer com spray, só que estava cansado de apenas “pichar” e resolvi fazer algo mais elaborado.”

Hoje, Smul é formado em artes plásticas. Desde 2005, trabalha como educador em projetos sociais voltados a jovens. Ele é também um dos fundadores do Coletivo NASA (Núcleo de Ações Sociocultural Ativista), um espaço que tem a “intenção de fomentar a cultura”, no ABC, através de arte, incentivos culturais e discussões políticas.


Smul aponta que o grafite foi a porta de entrada para a arte, e que trabalha com os jovens incluindo a modalidade e “sempre usando o grafite como ferramenta transformadora”.

O pichador “Kães De Igreja - gdn”, que pediu para não ser identificado, disse qual a diferença entre as duas modalidades: “Há uma enorme diferença entre os dois. A pichação é o vandalismo, é a destruição. Já o grafite é a construção, uma forma de arte. Existe uma linha tênue que separa essas duas classes”. Ele completa: “O grafite é arte e deveria ser tão respeitadas quanto uma pintura em tela”.

Já Smul define o grafite “original” com uma “arte transgressora, que jamais será presa ou terá rótulos, essa sim sofre preconceito. Mas grafite é sempre o que estiver na rua, e toda arte que estiver na rua pode ser contestada. Arte em galeria usando técnicas de grafite é arte contemporânea, grafite é rua, sempre foi, sempre será. Liberto e sem rótulos e padrões.”

As motivações que regem os dois também são diferentes para o grafiteiro, em grande parte, a ideia é fazer uma arte que possa ser apreciada. Alguns sonham em ter seus trabalhos reconhecidos em galerias. Já o pichador tem como contexto a revolta social, “Kães De Igreja – gdn” explica as suas principais motivações ao fazer uma pichação. “A adrenalina faz com que os pichadores sintam-se livres de tudo que os cerca, e um passo à frente do sistema, o medo de escalar uma janela, subir no pico nome usado para coberturas e parapeitos de prédios. Somos todos inconformados com o governo, também julgamos a pichação como um ato político. Faz com que nossa voz seja ouvida, ou melhor, com que nossa mensagem seja lida”.

Para a coordenadora do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Anhanguera do ABC, Maria Cristina Domingues Lopez, 55, o grafite “é uma manifestação de arte, feita onde há autorização, renova e revitaliza o ambiente urbano que já está degradado, porém é necessário que tenha controle e uma autorização específica”.  Maria Cristina  ainda aponta que para a arquitetura moderna a pichação “é uma expressão irreverente sem conteúdo artístico”.

Legislação

Apesar de as duas modalidades serem consideradas como uma expressão artística das ruas há algumas diferenças entre grafite e pichação.  Pichar é considerado ilegal desde 1998. A pena pode ser de três meses a um ano de cadeia.

Ele tende a não ter desenhos bem elaborados em sua maioria são considerados “rabiscos”. Já o grafite só é considerado ilegal quando não há autorização do proprietário do local grafitados. Produz desenhos bem elaborados e com o objetivo de “colorir” a cidade.
*Esta reportagem foi produzida por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo

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