A evocação do mistério pela figuração do vazio na pintura ocidental

Etienne Alfred Higuet

Resumo


Ao tentar alcançar a contemplação do mistério divino, o místico procura libertar-se da representação das imagens na consciência, deixando apenas subsistir a representação do vazio como figuração do mistério. Como fica isso na arte pictórica? O vazio é geralmente representado plasticamente pela cor pura, livre de toda forma, cor pura que culmina no branco. Assim procedeu Casimir Malevitch, no começo do século XX, quando tentou pintar uma espécie de representação original do Absoluto, vazia de toda determinação, como na série “Branco sobre branco”. Essa experiência ilumina de certo modo o Mistério cristão da Ressurreição do Deus-Homem, no episódio do sepulcro vazio. A experiência do vazio é um convite a viver segundo dois mundos, um visível, aqui embaixo, o outro invisível, no além, segundo a lógica da Encarnação. Encontramos essa função do vazio representado pela cor branca na Ressurreição do retábulo de Issenheim, de Matthias Grünewald, e no afresco da Anunciação de Fra Angelico. O branco permite ao pintor virtualizar um mistério que ele se sabe incapaz de representar. Do seu lado, Paul Tillich encontra na arte do século XX a presença de um “vazio sagrado”, através da qual se manifesta o que nos toca de modo incondicionado, ou um Ultimate Concern. Além de Jean-Jacques Wunenburger, que fornece a base das minhas reflexões, incluí comentários inspirados em Yves-Alain Bois, Andréi Nakov, Guitemie Maldonado, Georges Didi-Huberman, Michel Henry, Jean-Luc Nancy, Paul Tillich e John Dillenberger.


Palavras-chave


pintura, mistério, vazio, branco, abstração, Ultimate Concern

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DOI: https://doi.org/10.15603/1677-2644/correlatio.v21n1p131-157

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