Religião e silenciamento do sofrimento: reflexões sobre morte e vida de mulheres em situação de violência
Resumo
Os dados relativos à morte e adoecimento de mulheres no Brasil e no mundo diretamente relacionados à violência de gênero atestam que há um imenso contingente de mulheres que, por força dessa violência, têm suas vidas abreviadas. Muitas nunca contaram essa experiência de dor ou, ao contarem, foram "aconselhadas" a mantê-la em segredo. A violência de gênero impõe às mulheres o silêncio sobre as suas dores. Seus sofrimentos são mantidos em segredo e guardados na casa, e a religião tem importante participação nisso, gerando a desmobilização da indignação contra a produção do sofrimento impetrado contra as mulheres. O presente artigo objetiva tratar do silenciamento das mulheres em situação de violência como mecanismo de dificultação do comprometimento social com suas vidas, e toma o caso específico da menina de dez anos que foi violentada e engravidada pelo tio no Espírito Santo para orientar essa discussão.
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PDFReferências
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DOI: https://doi.org/10.15603/2176-1078/er.v34n3p337-351
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