Noé e sua arca: da Torá ao Corão
Resumo
A narrativa do dilúvio é um raro exemplo da história da recepção de literatura que parece não perder sua força de ressignificar-se em novos contextos históricos, conquistando públicos os mais diversos durante um processo de transmissão que já dura nada menos que três milênios. Desde que deixou sua terra natal no reino dos sumérios, na Baixa Mesopotâmia, o fio condutor da narrativa sofreu algumas alterações. As intenções modificam-se quando a história é traduzida para novas realidades, mas ainda assim podemos falar de uma longa história dos efeitos dessa narrativa das águas diluvianas, do barqueiro esperto e de sua condução salva-vidas. A personagem principal troca de nome assim que chega a um novo destino. Na Torá, sacerdotes e pensadores do antigo Israel o chamam de Noah / Noé; uma sura do Corão fala da história de Nuh. As diversas versões tratam do fim de uma crise com ameaças extremas àqueles que se sabem destinatários e narram a chegada do novo, em que sobreviventes atravessam o caos na barcaça segura providenciada pela divindade salvadora. Essa vontade salvadora de Deus estende-se à terra inteira, na versão do Noé bíblico e sua arca. Há como superá-la nessa sua versão universal? Não deveria ser contada apenas como história cheia de graça? Por que os escritos do Novo Testamento (NT) destacam da história de Noé e sua arca apenas a analogia "como nos dias de Noé!" e não resgatam a promessa insuperável do "nem mais haverá dilúvio para destruir a terra"? A exemplo do que acontece no NT, também no Corão "os dias de Noé" são revividos nos embates do profeta árabe com seus opositores, especialmente nos primórdios de sua atuação em Meca.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFDOI: https://doi.org/10.15603/2176-1078/er.v26n42p65-84
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.